A proposta da ANP de aprovar o enchimento fracionado do GLP vem preocupando os principais agentes e membros do setor. Os muitos riscos para o consumidor e para o mercado estão no centro das discussões da TPC – Tomada Pública de Contribuições No 07/2018. Em entrevista, Afonso Teixeira, diretor da empresa Clesse, comentou sobre esses riscos e explicou porque a proposta de encher os botijões fora dos centros de abastecimento podem ser prejudiciais para todos.
Quais os principais riscos de segurança na proposta de enchimento fracionado dos botijões?
O enchimento fracionado dos botijões tem diversos riscos como vazamento de gás entre o bico de abastecimento e a válvula do botijão, causando incêndios e queimaduras, além do manuseio inadequado dos equipamentos de abastecimento (balança de injeção de GLP, sistema de aterramento). Outro problema é a possibilidade de acidente nos locais de armazenamento dos tanques e mão de obra mal preparada para a realização dos procedimentos. O maior risco está no transvaso na rua, do tanque para o botijão, em que não seria possível isolar adequadamente uma área.
Como é o processo atual de enchimento dos botijões e quais as suas principais medidas de segurança?
O atual processo de enchimento dos botijões é realizado dentro das bases engarrafadoras das distribuidoras de GLP. O botijão ao chegar na “engarrafadora”, passa por uma rígida inspeção visual para detectar possíveis defeitos como ferrugem ou amassamento, além de se verificar a data que o mesmo deve ser enviado para a revisão periódica (requalificação). Em seguida passa por um processo de pintura, enchimento através de balanças calibradas, teste de vazamento, inspeção final, ainda dentro das distribuidoras, até voltar para os consumidores. Tudo isto é realizado dentro de um rígido sistema de segurança, supervisionados por técnicos e/ou engenheiros de segurança.
Para garantir a segurança de toda a operação, as engarrafadoras aplicam diversas medidas de segurança como: proibição do trânsito de pessoas não credenciadas; treinamento de funcionários; proibição nas áreas de abastecimento de uso de qualquer equipamento gerador de calor (celular, furadeira, veículos). Além disso, os botijões ficam armazenados tanto cheios quanto vazios, em uma área especial, protegidos por sistemas contra incêndio. Em caso de incêndio, as engarrafadoras estão equipadas com grandes reservatórios de água, hidrantes, sprinkler e extintores, além de comunicação direta com Corpo de Bombeiros.
A proposta do enchimento fracionado é viável, tanto economicamente, quanto logisticamente?
Os riscos de acidentes graves ao se realizar um enchimento de cilindro em local sem isolamento de proteção, e sem os sistemas de segurança já mencionados acima, são altíssimos.
Atualmente, não existe viabilidade neste processo, quer seja econômico ou de logística.
A fiscalização e manutenção dos botijões ficaria prejudicada com esse modelo proposto pela ANP?
Sim, acredito que a fiscalização e a manutenção dos botijões ficariam muito prejudicadas. Hoje, elas ocorrem em pontos fixos, que são as engarrafadoras. Caso essa proposta seja aprovada, vai ser praticamente impossível fiscalizar os pontos de enchimentos, ainda mais se os pontos forem móveis, no caso de auto tanques realizando os enchimentos. Não temos estrutura atualmente para controlar itens como: afastamentos de segurança, isolamento das áreas onde estaria ocorrendo o enchimento dos botijões, calibração e fiscalização das balanças.
Haveria também uma grande dificuldade de retirar botijões de circulação para realizar as manutenções preventivas, como é feito dentro das engarrafadoras. Portanto, na minha visão, a fiscalização e a manutenção dos botijões ficariam muito comprometidas, aumentando o risco de acidentes.